O termo de Infrastrutura Verde é um termo recente, mas não uma ideia nova. A importância dos espaços verdes urbanos remonta ao século XIX, desde a Revolução Industrial. À medida que as cidades se desenvolvem, tornavam-se também sobrepovoadas, poluídas, ruidosas e os espaços verdes urbanos eram cada vez mais escassos, causando uma destruição da qualidade do meio urbano.
Nas cidades americanas seguindo a tendência de crescimento rápido e desordenado, Frederick Law Olmsted foi pioneiro na conceção de parques e espaços verdes urbanos, tais como o Central Park de Manhattan, em New York (1857), reconhecendo as funções recreativas e de lazer que estes tinham nas comunidades. Contudo, apesar dos grandes avanços na criação de parques urbanos, os espaços verdes tendiam a decrescer.
No final do século XIX, o próprio Olmsted reconhece a importância de ligar os parques urbanos projetados até então, afirmando que “No single park, no matter how large and how well designed, would provide citizens with the beneficial influences of nature”, sugerindo que os parques “need to be linked to one another and to surrounding residential neighbothoods”. Desta ideia nasceu o conceito de parkway, um sistema de parques públicos urbanos ligados entre si, essencialmente pensando nas funções de recreio, lazer e bem-estar das populações, ao contactarem com espaços verdes.
Olmsted Park System. Fonte: Boston Parks Department & Olmsted Architects, NPS Olmsted Archives, Public Domain (opens in a new tab)
Entretanto na Europa, Ebenezer Howard iniciava o movimento das Garden Cities (Cidades Jardim) em 1898, ao rodear as cidades por greenbelts (cinturas verdes) de solos agrícolas e florestais, na tentativa de controlar a expansão urbana e evitar que as mais próximas se agregassem, preservando a identidade de cada uma.
Um maior foco nas questões da mobilidade pode ser encontrada no modelo Finger Plan aplicado por Bredsdorff à área metropolitana de Copenhaga, desde 1947. Cinco “dedos”, desenhados por linhas ferroviárias e estradas, ligavam os principais serviços e comércio no centro da cidade (palma da mão), às zonas suburbanas de habitação e às futuras unidades industriais em desenvolvimento. Esta configuração permitiu um rápido e eficiente serviço de transporte, evitando problemas de congestionamento de tráfego, para além de consituir uma proteção contra a edificação, acesso facilitado às áreas verdes de recreio ou produção agrícola, situadas entres os “dedos”.
a) Garden City de Howard: cidades satélite em torno da metrópole. Fonte: G. & S. Jellicoe, 1989 (opens in a new tab). b) Modelo em planta da Ville Radieuse de Le Corbusier (1935). Fonte: G. & S. Jellicoe, 1989 (opens in a new tab). c) Finger Plan de Copenhaga em 1947. Fonte: Tutein & Koch, 1948 (opens in a new tab).
Os anos 70 foram marcados por preocupações acrescidas de ordem ambiental. A população passou a estar cada vez mais alertada acerca da sua vulnerabilidade dos sistemas naturais à intervenção humana, nomeadamente as questões da poluição.
Philip Lewis introduz o conceito de Environmental Corridors (1964) para designar “corredores ambientais” tipicamente ao longo de linhas de água, zonas húmidas ou zonas costeiras, constituindo ligações entre as paisagens. Estes corredores garantiam a mobilidade das espécies, podendo também servir como zonas de transição entre as zonas humanizadas e os habitats com ecossistemas mais sensíveis, servindo-lhes de proteção contra potenciais influências externas.
Por outro lado, a evolução tecnológica veio introduzir os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) como uma nova ferramenta, surgindo também novas formas de análise económica para apoiar os caminhos do desenvolvimento urbano.
Foi nesta perpetiva que surge nos EUA, o movimento das Greeways (Corredores Verdes), tendo como principal objetivo proporcionar à população das áreas metropolitanas o acesso às áreas naturais, focando sobretudo o recreio, lazer e desporto associado à natureza.
Em simultâneo, os movimentos Rails-to-Trails e Rails-with-Trails, oriundos dos EUA, têm vindo a converter caminhos de ferro abandonados desde os anos 80 em trilhos públicos de recreação e de desporto para a população.
Para além da conetividade entre habitats, outras problemáticas ambientais, sociais e económicas juntam-se ao planeamento e gestão do território. Começam a emergir necessidades de mitigação e adaptação às alterações climáticas, em adição a outras preocupações como a de garantir a produção agrícola e florestal ou controlar situações de cheias.
O conceito de Infraestrutura Verde, conforme introduzido por Benedict & McMahon (2006), diferencia-se das estratégias tradicionais de conservação, adotando uma visão mais abrangente e prática das múltiplas funções dos espaços de elevado valor ecológico, criando estratégias de gestão sustentáveis a longo prazo. Esta pode ser definida como: “Interconnected green space network (including natural areas and features, public and private conservation lands, working lands with conservations values, and other protected open spaces) that is planned and managed for its natural resource values and for the associated benefits it confers to human populations”. Trata-se de uma “rede de espaços relevantes para o equilíbrio ecológico do território”, que pode incluir áreas naturais, semi-naturais e naturalizadas: linhas de água, zonas húmidas, florestas, solos agrícolas, zonas costeiras, parques urbanos e outros espaços abertos que contribuam para manter os processos ecológicos e biofísicos, em solo rural e urbano. Esta rede pode ser orientada por um sistema concetual tal como ilustra seguinte, em que os espaços fundamentais são representados por “núcleos”, a conetividade funcional entre estes é representada por ligações de “corredores verdes” e as pequenas áreas com contributos ecológicos e sociais identificam-se como “retiros”.
Esquema concetual de IV. Fonte: Adaptado de Benedict & McMahon (2006), Inês Pereira Correia
Os núcleos são as áreas a preservar ou restaurar, que corresponde às grandes áreas de habitats que sustentam as comunidades animais e vegetais autóctones. Os corredores verdem ligam os núcleos, permitindo a mobilidade das espécies e a partilha genética. Estes corredores correspondem normalmente a rios, áreas agrícolas ou florestais, e podem também servir como conexão entre a população e a natureza. Os retiros são pequenas áreas que têm a função de completar as descontinuidade dos corredores verdes. Localizados estrategicamente, constituem suporte à deslocação de organismos móveis. Para além disso, podem representar espaços de recreio e lazer para as populações.
A infraestrutura verde pode dar um importante contributo para os objetivos da UE na utilização de recursos e biodiversidade, mantendo e reforçando os ecossistemas e respetivos serviços até 2020 e restaurando, pelo menos, 15 % dos ecossistemas degradados.
A cidade espanhola de Vitoria-Gasteiz criou uma inovadora cintura verde de 613 hectares, composta por uma extensa rede de parques, caminhos pedonais urbanos e sistemas sustentáveis de gestão hídrica que rodeiam a cidade e estabelecem a sua ligação com o campo. As zonas húmidas suburbanas recuperadas servem também como zonas de retenção e purificação da água, com eficiência em termos de custos, e minimizam o fluxo de água do sistema fluvial para uma rede de tratamento de efluentes que, caso contrário, teria de ser remodelada e ampliada. Para além dos aspetos relacionados com o lazer, o projeto arrefece a atmosfera urbana no verão, capturando o carbono e aumentando a capacidade de absorção do solo.
É essencial que haja atualmente um modelo concreto para uma melhor gestão ecológica dos espaços verdes e facilitar a conetividade desses espaços com as comunidades, de forma a que esses modelos sejam inclusivos e auto suficientes. A presença dos espaços verdes pode trazer diversos benefícios ambientais e para a população no contexto urbano. As realidades paisagísticas de cada município definem os espaços naturais considerados como mais importantes. O crescimento de qualquer sistema envolve o desenvolvimento da região em diversos níveis tais como económico, social, ambiental, estrutural e funcional. Cada vez mais, é essencial a existência de espaços que assumem diferentes papéis e funções na sociedade, dentre elas as funções sociais, estética, ecológica, educativa e psicológica. Promovem a biodiversidade. Promovem o bom funcionamento dos processos biofísicos e a qualidade ambiental. Aumentam a capacidade de adaptação às alterações climáticas, a resistência dos ecossistemas e das cidades. Promovem a qualidade de vida da população. Trazem benefícios económicos às populações e à administração pública.
#Bibliografia
- ”Avaliação da disponibilidade de espaços verdes públicos no contexto urbano e a sua relação com a perceção dos residentes”, Gabriela Cardoso da Silva, 2016 (opens in a new tab)
- ”Das Estruturas Ecológicas Municipais às Infrastruturas Verdes”, Inês Pereira Correia, Instituto Superior Técnico 2012 (opens in a new tab)
- ”Greenways for America”, Charles E. Little, 1995
- ”Green Infrastructure: Linking Landscapes and Communities”, M.E. Benedict and E.T. McMahon, 2006
- ”Environmental trends of ports and harbours: Implications for planning and management”, John H. Vandermeulen, 2006